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Pingos, fumos e salpicos: capturar o movimento


As fotografias de movimento podem mostrar de forma inigualável o caráter apetecível dos alimentos. Quem resiste à visão de chocolate quente a escorrer? Ou do vapor que se desprende de um bolo acabado de fazer? Além disso, despertam a atenção e a curiosidade porque nos mostram cenas que os nossos olhos só conseguem entrever ou não são de todo capazes de registar. Como as formas fantásticas de líquidos e cremes a salpicar ou a escorrer, fumos e vapores a difundir-se, pós polvilhados em suspensão no ar ou as posições inesperadas de objetos que desafiam as leis da gravidade.

Saber capturar o movimento pode por isso ser muito útil em fotografia de bolos e doces. Vamos ver como se faz.

Congelar ou arrastar o movimento

Há duas formas principais de obter estas fotografias: congelar ou arrastar o movimento. Para o congelar fotografa-se com uma velocidade elevada e para o arrastar usa-se uma velocidade baixa.

Veja-se o exemplo das duas fotografias abaixo. Ambas transmitem o movimento do açúcar polvilhado, mas de forma diferente. Na primeira o açúcar aparece em suspensão no ar (imagem congelada) enquanto na segunda forma uma nuvem difusa (imagem arrastada).

Estas duas fotografias foram obtidas com uma câmara dSLR mas também há situações em que o smarphone é suficiente. Nomeadamente porque existem aplicações que podem estender muito as capacidades da câmara nativa do smarphone. Mas falaremos disso num próximo post dedicado exclusivamente a este tipo de câmara. Neste, vamos assumir que utilizará uma câmara dSLR.

Para obter fotografias dinâmicas pode usar a câmara no modo manual (M) ou no modo de prioridade à velocidade (modo Tv nas câmaras Canon, ou S nas Nikon).

Mas em ambos os casos, o principal é escolher bem a velocidade!

A velocidade de que precisa depende do efeito que deseja obter (congelar ou arrastar muito ou pouco) e também da rapidez do movimento que quer capturar. Por isso é importante fazer algumas experiências. Por exemplo, uma velocidade de 1/1000 é suficiente para congelar o movimento de açúcar a cair, como se viu na imagem acima. Contudo, seria insuficiente para congelar o efeito de um balão a rebentar (por exemplo um dos balões que se usámos para fazer estas taças de chocolate). Esse movimento é muito mais rápido e exigiria uma velocidade de cerca de 1/6000.

As experiências são necessárias também para definir os restante parâmetros fotográficos (encontra mais informação sobre esses parâmetros neste post sobre o modo manual).

É preciso ter em atenção principalmente o seguinte:

  • Se aumenta a velocidade precisa de mais luz. Uma forma de reduzir esta necessidade é aumentar um pouco a sensibilidade ISO. Contudo, não exagere porque à medida que aumenta o ISO aumenta também o grão da fotografia.

  • No modo de prioridade à velocidade, quando se aumenta a velocidade a câmara aumenta automaticamente a abertura. Isto significa que a imagem fica focada até uma profundidade menor. Por isso é preciso ter cuidado para que o “herói” da fotografia não fique fora da zona em foco.

  • Tenha em atenção também que quanto mais lenta a velocidade, maior o risco de a fotografia ficar tremida. Para velocidades abaixo de 1/60 convém mesmo usar tripé.

Para simplificar a tarefa de compatibilizar todas estas variáveis, experimente recorrer ao tethering, como explicamos neste post. É muito mais fácil!

Combinar várias fotografias numa só imagem

Para transmitir a ideia de movimento há ainda a possibilidade de tirar várias fotografias e depois combiná-las numa só imagem. Podem ser fotografias de diferentes objetos/substâncias em movimento ou fotografias sucessivas do mesmo objeto/substância em momentos distintos do seu movimento.

Para tirar fotografias sucessivas pode usar o modo de disparo contínuo que todas as câmaras dSLR possuem. Quanto maior o número de frames que a sua dSLR conseguir capturar por segundo mais fácil será captar movimentos muito rápidos e momentâneos.

Por exemplo, a Canon EOS 100D consegue capturar um máximo de 4 frames por segundo (este valor pode na prática ser menor quando se escolhe uma resolução muito elevada para as fotografias, porque isso resulta em ficheiros pesados que a máquina demora a processar). Ora este número de frames por segundo não é muito elevado em relação, por exemplo, à velocidade de objetos em queda.

Por essa razão, foram necessárias várias tentativas até conseguir “apanhar” esta imagem de cestos em queda. Nestes casos é preciso preparar o trabalho, principalmente se este envolver objetos que se danificam como bolos ou ingredientes. Preveja a possibilidade de ter que utilizar várias unidades até conseguir uma boa fotografia.

Nota: Outra forma de obter fotografias sucessivas é através da técnica do time-lapse. Esta técnica é aplicável a movimentos lentos, como este de um bolo a crescer no forno. Consiste em tirar fotografias de uma cena a intervalos regulares, durante um período de tempo longo, com uma câmara programada para o efeito. Em geral, estas fotografias são depois utilizadas para fazer animações que aceleram o movimento lento original para um período de tempo mais razoável. A técnica do time-lapse é hoje em dia muito utilizada para fazer animações de receitas como esta, sendo por isso muito relevante para a fotografia de bolos e doces. Contudo, tem algumas especificidades, pelo que falaremos dela em detalhe num próximo post.

A combinação das fotografias numa só imagem é feita por manipulação digital. Vamos falar de três casos principais.

1) Exposição múltipla

Algumas câmaras dSLR têm a funcionalidade de exposição múltipla. Esta consiste em tirar um determinado número de fotografias e sobrepô-las numa única imagem que é fornecida ao utilizador. Há também aplicações para o iPhone e para Android, algumas das quais gratuitas, que permitem estender as capacidades da câmara nativa do smartphone, de modo a permitir a exposição múltipla. Procure na App Store ou na Google Play, por exemplo, para encontrar as últimas novidades.

O efeito da exposição múltipla pode também ser obtido em programas de edição de imagem. A fotografia de capa deste post, por exemplo, foi obtida no Photoshop a partir de três imagens individuais. O procedimento baseou-se em abrir as imagens como layers e combiná-las através do comando Stack Mode (Layer > Smart Objects > Stack Mode >Mean).Também o editor de imagem online e gratuito Pixlr permite obter este tipo de efeito. Veja este tutorial sobre como o conseguir.

Nas técnicas de exposição múltipla, convém que o fundo esteja o mais estático possível de imagem para imagem, para a fotografia final não ficar tremida. Uma boa solução é usar um tripé!

Nota: Outra utilidade da técnica da exposição múltipla é reduzir o grão das fotografias tiradas com ISO elevado (por exemplo, quando se fotografa com pouca luz). Para isso, tiram-se várias fotografias em vez de uma só e depois somam-se usando um dos métodos descritos. O grão é ruído e tem uma distribuição aleatória na imagem. Por isso tende a desaparecer quando se somam várias fotografias.

2) Montagem digital

Outra forma de combinar diversas fotografias numa só imagem é fazer uma montagem digital. Ou seja, fazer uma composição com elementos retirados das várias fotografias.

Este tipo de técnica pode transmitir muito bem a ideia de movimento e tem sido usada para o efeito, com resultados interessantes e bastante impacto nos media, em fotografia de culinária. Veja por exemplo as receitas dinâmicas de Nora Luther e Pavel Becker ou os artísticos ingredientes voadores de Piotr Gregorczyk.

As montagens digitais fazem-se num programa de edição de imagem, tipicamente o Photoshop. Mas também se conseguem excelentes resultados, por exemplo, no editor online e gratuito Pixlr . Veja neste vídeo tutorial dois métodos de fazer montagens digitais no Pixlr. O primeiro método é mais simples e parte de fotografias em que o fundo é sempre igual. O segundo também é aplicável a casos em que isso não acontece. No tutorial pode ainda ver como aplicar muito rapidamente uma textura no fundo da imagem, através do Pixlr Express.

3) Animações

Para transmitir a ideia de movimento pode ainda fazer um GIF. Um GIF é um tipo de ficheiro que pode conter várias imagens e que as mostra sucessivamente.

Veja este GIF obtido a partir de fotografias tiradas ao longo da montagem de uma cena com arroz doce. Pode fazer animações similares para mostrar a confeção das suas receitas!

Para a animação ficar bem há três coisas importantes a ter em atenção durante a sessão fotográfica:

  • A câmara deve estar bem fixa, recomendando-se vivamente que a instale num tripé.

  • Idem em relação à base e aos objetos que não é suposto moverem-se. Fixe bem a base ou use uma mesa estável e tenha cuidado para não tocar nos objetos.

  • Para que a animação não tenha flutuações de luz, convém tirar as fotografias sob condições de luminosidade constante. Isso pode ser difícil com luz natural, especialmente quando a cena é demorada ou o tempo está instável. É mais seguro fazê-lo com luz artificial. Veja aqui um post sobre como iluminar adequadamente os seus bolos e doces com luz artificial.

E como se obtém o GIF animado a partir das fotografias? É muito fácil. Pode usar o Photoshop ou um program equivalente. Ou pode utilizar um dos muitos recursos gratuitos disponíveis na net para o efeito, por exemplo o GIFMaker.me. Basta fazer o upload das fotografias, escolher a resolução da imagem e a velocidade da animação e clicar “Create GIF animation”. E já está!

Depois de obter o seu GIF animado, é só publicá-lo. Se a plataforma onde quer publicar não suportar o formato GIF, pode alojá-lo numa plataforma como a Giphy. A Giphy está para os GIFs como o Youtube está para os vídeos. Ou seja, fornece-lhe um link que pode inserir no seu blogue ou página do Facebook. Veja o exemplo a seguir.

Em vez de alojar a sua animação numa plataforma de GIFs, também pode transformá-lo em vídeo. Foi o que aconteceu com o GIF que vimos, do arroz doce, que a seguir foi alojado na nossa página do Facebook. Essa transformação é simples e há muitos recursos gratuitos na net que o permitem fazer. E estão sempre a aparecer novas alternativas. Além disso, programas como o próprio GIFMaker.me têm frequentemente a alternativa de produzir logo um vídeo em vez de um GIF.

Casos particulares de movimento

Por vezes, captar o movimento ou criá-lo exige técnicas específicas. É o caso dos splashs e dos vapores. Os splashs porque nem todos os líquidos e cremes se comportam da mesma forma e porque o processo se pode tornar caótico demais para a sua cozinha. Os vapores, que são tipicamente vapor de água emitido por alimentos quentes, porque podem ser muito difíceis de captar numa fotografia. Muito mais que os fumos. Por isso, vamos tratar destes dois casos, splashs e vapores, um de cada vez, em próximos posts. Fique atento/a ou registe-se para os receber diretamente na sua caixa de email!

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